Os primeiros esboços de folia de entrudo foram introduzidos paulatinamente no reino do Congo logo a partir dos primeiros contactos dos Portugueses com gente da bacia do grande rio "N'zadi", o Zaire. As primeiras gentes a seguir este tipo de manifestação foram os N´Zombo da margem sul do N´Zaire e os N´Zaus do lado Norte do mesmo rio, os agora chamados de Cabinda, os Lândanas e Inbindas de então. Mais tarde os N´Zeto do Songo e Solongo, mais a sul do reino de Manikongo também aderiram a este brincar de vida.
Na expansão mercantil dos vários entrepostos
comerciais, e mais para sul, os Tugas, simultâneamente, transportaram
pela costa mais a sul do actual Ambriz estes costumes ao reino de
N´Dongo, (nome das primeiras canoas e gentes) aquele que veio a ser conhecido
por N´gola e depois de Angola.
Os naturais da ilha das cabras ou os Muxiloandas da ilha
Mazenga, actual ilha de Luanda, fizeram desta manifestação uma diversão aliada
a uma dança conhecida por bassula, esquindiva ou finta. Com enfeites de
fitas e ramos imitavam os novos seres de tês branca, os N´Dele ou T´chindele de chapéus e armaduras em ferro. Seguiu-se uma rápida semântica de
linguajar e gíria caracterizada pelos camondongos ou kaluandas, uma mistura de
kimbundo com pretuguês.
Os Muxiluandas deram o nome de Muala àquela dança já
com alguma coreografia e num ritmo de pré-merengue. O semba apareceu a partir
da dança Kazukuta, num lugar conhecido por Samba; o próprio Soba Samba aliado a
Manhanga (Maianga) deram ao longo dos anos vivacidade a tal manifestação de
folguedos.
Aquelas manifestações, a partir de 1800 já tinham grandes
momentos de recreação e coreografia. Muito próximo do fim do século XIX,
surgiram muceques com nomes de Kamama, Kapiri e Mulenwo que em manifestações de
óbito, faziam apelo ao espírito "Kiruwala", exibindo gestos de quase
recreação que os Muxiloandas ou Axiluandas usavam para demonstrar
fraternidade e apoio social.
A partir dos anos trinta do século XX, os moradores da Ilha vinham de canoa até à Marginal a que se veio a chamar de Paulo Dias de Novais, e imitavam os marinheiros portugueses com suas fardas imaculadamente brancas, espadas, divisas amarelas e chapéus a condizer. Faziam a folia regada com T'chissângua e vinho do Puto que os "N'Gwetas" traziam da metrópole; eram tempos de folguedos que os N'Gwetas davam aos seus trabalhadores, quitandeiras e lavradeiras para se esponjarem nas areias da Marginal. Os colonos roçeiros, fubeiros ou funcionários, riam e, à sucapa e, no fundo dos quintais de suas quintas ou casas iam fazendo farras de "arrebenta merengue" por debaixo de uma mulembeira, amendoeira, tamarindo ou até embondeiro; era uma altura própria para as donzelas "N'dele", crioulas e mocamas se conhecerem, falarem das coisas de literatura.
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As manifestações de Saturno e Baco iam proliferando a partir dos muceques, Sambizanga, Prenda, Catambor, Bairro Operário, São Paulo, Kaputo da Terra Nova, Cazenga, Rangel e os já falados pescadores da Ilha, os Muxiloandas. Os Kaluandas, sempre prontos para a farra, mais os curiosos do Kifangondo, Cacuaco, Catete, Barra do Kwanza,Belas, Maculusso, Praia-do Bispo e Bungo.
O 1961, chegou a um dia quatro de Fevereiro e, as autoridades
coloniais suspenderam todas as manifestações de rua. Timidamente no fundo dos
quintais e quase em surdina iam fazendo as farras na Samba, Coqueiros, Bairro do Café, Vila Alice, Quinaxixe e Maianga; eram resquícios das festas Juninas
em homenagem aos santos populares que brancos e filhos crioulos faziam com
regulamentos, letra e música e um prémio do Município de Luanda.Após o ano se 1961, não obstante as autoridades
proibirem manifestações de folia, registaram-se tentativas de desobediência em
São Paulo, Anangola, Bairro Operário e Bairro do Cruzeiro tendo daí originado
distúrbios com forte repressão por forças militarizadas. Era uma vingança
às mortes de uns quantos polícias quando do assalto à quarta esquadra por entusiastas
do glorioso EME, seguindo-se rusgas e cachorros à solta para agarrar negro
(coisas para esquecer, mesmo tontas mas,...de difícil compreensão). Foi o inicio da luta armada, a revolta dos
perseguidos em tempos de “qwata-qwata” e, eis que em 1965 o Centro de Informação
e Turismo de Angola (CITA), regulamenta conjuntamente com a Câmara Municipal os
blocos de participantes idos do subúrbio para alegrar as gentes na Avenida
Marginal.
Já não havia areia, já existia o Banco de Angola, Cais de
pesca e muitas palmeiras imperiais enfeitando um largo passeio ladrilhado
e asfaltado desde a fortaleza de São Miguel no Baleizão e o porto de mar
do Bungo com sua praça imperial e a estátua do Navegador Paulo Dias de
Novais (esta estátua deveria voltar ao seu sítio)
Os blocos desfilavam em corso, mascarados, com latas
pintadas, apitos, vestes coloridas a imitar Reis do Puto distante e muitas
espadas, lanças, escudos e coroas; naquele dia toda a gente era rei,... Quem o quisesse ser!
Os reinos de N´gola e Kongo estavam sempre
representados.
A cidade do Lobito aderiu às festividades e na ilha da
Restinga o corso passava despejando quilos e quilos de fuba para tornar todos
brancos e atrás, uma agulheta de água consolidava a máscara branca com figuras
de sinistra aparência. Naquele dia eram todos brancos e Zumbis.
Mais tarde surgem os N´gola Ritmos, Os Cunhas, os
Rok´s e os Duo Ouro Negro. Seguiram-se-lhe o Lubango, Benguela das acácias
rubras, Huambo, Sumbe e tantas outras localidades até que surgiu a Revolta dos
Cravos, a 25 de Abril de 1974, comandada por uns quantos oficiais superiores
das Forças Armadas de Portugal, cujos resultados se repercutiram nas colónias
portuguesas em África até à proclamação das suas independências.
O Carnaval que já se notabilizou como uma das festas
mais populares do país, registou na sua história várias interrupções. A
primeira aconteceu na década de 1940 com a eclosão da IIª Guerra Mundial; a
segunda entre 1961 e 1963, com o início da luta de libertação nacional, período
que também não houve Carnaval por decreto do regime Salazarista; e uma terceira
que aconteceu entre 1975 a 1977.
O ressurgir das festividades carnavalescas na então República
Popular de Angola foi protagonizado, em 1978, pelo Fundador da Nação e primeiro
Presidente de Angola, Dr. António Agostinho Neto.
Num comício bastante popular realizado num dos mais
emblemáticos municípios de Luanda (o Cazenga), o Poeta-Presidente propunha à
população do país a realização do Carnaval numa perspectiva diferente daquela
até então conhecida.
O restabelecimento do entrudo como uma festa pública e de
recreação popular, foi idealizada por Agostinho Neto, com a finalidade de tirar
a população do marasmo que absorvia completamente a sua actividade diária.
Deste modo, a história do Carnaval pós-independência está intrinsecamente ligada à personagem de Agostinho Neto que, com o seu discurso
popular e promissor, apelou aos angolanos à celebração das vitórias
conquistadas pelo país, designando assim o Carnaval da vitória. Esta foi a
tónica predominante do Carnaval durante muitos anos.
Para além da sua formação em Medicina, da sua veia literária
e do seu desejo de ver o direito à vida ser irrefutávelmente respeitado,
Agostinho Neto revelou-se também uma personagem impulsionadora das
manifestações culturais e do resgate do legado cultural do país,
como pode ser lido no seu poema do livro Sagrada Esperança, intitulado Havemos
de Voltar:
«À marimba e ao quissange
ao nosso Carnaval havemos de voltar»
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