Mais de 140 anos depois, Lândana vive timidamente, como esses lugares onde aconteceu muita coisa e onde agora impera o silêncio.
A cidade rodeia a baía. E a baía conta histórias de antes, quando Lândana era um centro comercial frenético e quando nela foi construída a Missão Católica, ponta-de-lança evangelizadora do antigo Congo Português.
Do alto do morro que a sombreia, assim, tranquila e plácida, é difícil imaginar o buliço dos tempos em que Lândana, no litoral centro de Cabinda, era um lugar de comércio intenso. As ruas agora calmas eram antes cosmopolitas, cheias de franceses, ingleses, holandeses, portugueses e cabindas em trocas acirradas de artigos. Um centro comercial com gente de vários cantos do mundo – o mundo que, curiosamente, o queria conquistar -, recheado de feitorias, de vapores ingleses em escalas de idas ou voltas em viagens pelas águas do Zaire, e de navios que ligavam Cabinda à Europa e a outros portos africanos. Era assim Lândana – a tranquila Lândana de hoje – nos finais do século XIX.
Por essa altura, o contexto político do que hoje é Cabinda era indefinido. A primeira tentativa de evangelização católica dos povos dos três reinos da região – Loango, Cacongo e Ngoio -, tinha falhado redondamente. Depois de mil e uma dificuldades, a chamada Missão do Congo foi fechada por ordens superiores, o que comprometeu a afirmação portuguesa na região.
Num esforço religioso, mas também político, em 1873 tomou-se a decisão de reabri-la, desta vez fora da esfera de influência portuguesa. Graças à sua localização, clima e intensa vida comercial, Lândana transformou-se no centro difusor da chamada “segunda evangelização”. A 25 de Julho de 1873 abria portas a Missão de S. Tiago de Lândana, dirigida por padres do Espírito Santo.
O que começou como algo tímido, rapidamente cresceu em tamanho e influência. Na Missão, ainda hoje um dos lugares mais importantes da vila, os padres acumulavam as lides religiosas com as do magistério. Em 1883, juntaram-se aos missionários espiritanos as irmãs da Ordem de São José Cluny. A força evangelizadora era tremenda. Em 1901, já outras três Missões católicas tinham os sinos a rebate: Cabinda, Luali e Lucula.
Quando, em 1904, terminou a construção da emblemática Igreja da Missão de Lândana, hoje classificada como património cultural, já vários revezes tinham atingido a estrutura eclesiástica da região. Secas prolongadas, doenças e episódios políticos, como a assinatura do tratado de Simulambuco ou a Conferência de Berlim, foram criando dificuldades mais ou menos grandes à influência dos missionários espiritanos Em 1940, um golpe em seco fez a Missão bradar aos céus. Neste ano, foi extinta a Prefeitura Apostólica do Baixo Congo, e Cabinda passou a fazer parte da Arquidiocese de Luanda, o que apagou, de certa forma, o outrora efervescente centro religioso.
Apesar dos avanços e recuos, acentuados com a instabilidade vivida depois da independência de Angola, a Missão de Lândana manteve sempre o seu alto perfil. Hoje, é considerada a mãe das missões, e o berço da evangelização de quase toda Angola. De lá saíram inúmeros missionários que, do ponto de vista religioso e político (às vezes não dá mesmo para separar), influenciaram o curso da História angolana.
Hoje, a pequena vila do município de Cacongo é um daqueles lugares onde se sente que muito aconteceu. Ao lado, a praia, côncava, é porto de abrigo de canoas e barcos de pesca. Um ponto obrigatório de visita é o cemitério de Lândana, com as suas campas impressionantes, e nomes que recordam os linguajares que, em tempos, tomou conta deste lugar-rota-de-crenças, rota-de-vai-e-vens.
Como ir
Lândana fica a cerca de 45 km a norte de Cabinda, seguindo pela EN100 que liga as duas cidades.
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