Mesmo com um nível, relactivamente, baixo de infecção e propagação do covid-19, o continente africano será dos mais lesados no aspecto económico. A diminuição considerável de exportação de matéria-prima, a grande dependência de produção externa e a instabilidade das economias africanas porão o continente numa encruzilhada de queda e recuperação nos próximos tempos.
Em todo este movimento de combate aos efeitos da pandemia e de retrocesso económico o sector do turismo (viagens, alojamento, restauração, etc) será dos mais afectados no mundo todo, com previsão de início de recuperação daqui há seis meses, no melhor dos cenários e até dois anos nos cenários mais pessimistas.
O sector do turismo em Angola ainda não teve o seu momento e nunca foi explorado como poderia ter sido, deixando o seu grande potencial ecológico-natural a espera do desenvolvimento de toda a cadeia que permita criar um verdadeiro mercado de turismo.
Este adiamento manter-se-á tendo em conta que os grandes mercados de turismo desenvolvem-se a partir de “incoming” externo, principalmente, quando conseguem obter o beneplácito dos grandes mercados emissores, os EUA, UK, a Alemanha e nos últimos anos, a China e outros países dos BRIC’s. Todos eles, largamente afectados com a crise económica que se instalou e deverá durar mais alguns meses.
Outrossim, esta crise não é, somente, económica tem, igualmente, uma componente muito significativa de alteração de hábitos e comportamentos ligados à aglomeração e à aproximação e partilha física o que destruirá a capacidade dos mercados turísticos em criar grandes grupos e movimentações que permitem baixar muito os preços e elevar os rendimentos.
A situação do frágil tecido empresarial turístico de Angola é de um desafio, ainda maior do que aquele em que viviam até, agora visto que até a base mais importante, as viagens, será severamente afectada pela existência da pandemia e pela crise económica subsequente.
Vejamos o quadro a seguir referente ao ambiente de negócios que temos:
Quadro 1. Ambiente de negócios
Política – Os governos serão pressionados pela conjuntura e pelas empresas a adoptar medidas económicas mais flexíveis e abonatórias ao desempenho das empresas, principalmente, para ajudar o tecido empresarial a manter empregos. As empresas do sector do turismo deverão estar atentas a estes benefícios para explorá-los ao máximo, mas sabemos que o estado não tem muita margem de manobra, por isso, mantemos o valor ao meio da tabela (5).
Economia – O PIB angolano já indicava uma recessão ou um crescimento perto do zero (0) fruto da baixa do petróleo, das responsabilidades com um elevado montante em despesas e com uma dívida que ronda os 100%. A situação económica se irá agravar com todo o esforço necessário para conter a pandemia e, a seguir, para recuperar os sectores base. O mais provável será um outro esforço no desenvolvimento da produção agrícola e industrial para mitigar a dependência externa que será cada vez mais cara. Os consumidores terão um comportamento muito mais ponderado e conservador e irão investir em estabilidade sócio-económica, em saúde e segurança e, sempre que puderem, em poupança. Estes factores irão diminuir muito as despesas com viagens e lazer. Todo este cenário permite-nos manter o valor abaixo do meio (3)
Sociedade – Como dito antes, a pandemia irá influenciar de forma muito significativa no comportamento social, o turismo deixará de ser prioridade e até, deslocações simples, como ir a um restaurante, serão analisadas dentro de novas prioridades. Viagens longas, somente as necessárias (negócios que exijam mesmo deslocação, saúde e algumas férias sazonais de curo prazo), entretanto, o mercado do turismo interno poderá ter uma grande margem para explorar serviços para turistas locais ou localizados. Essa perspectiva deverá gerar uma grande discussão no meio relativa a custos/benefícios/qualidade/rentabilidade. As possibilidades existentes e alguma reacção positiva ao estabilizar da crise pandêmica permitem-nos manter este item ao meio da tabela (5).
Tecnologia – Será o grande aliado do mercado de turismo, aliás, será o grande aliado da economia a partir de agora. Na verdade, deixará de ser uma ferramenta à disposição das empresas e da sociedade para ser o suporte-chave de muitos negócios. Vê-se como já está a ajudar o sector da restauração a manter a sua operação com a mudança para o “delivery”. A tecnologia está, hoje, mais barata e acessível e deverá estar muito mais e com mais soluções à medida que deverá ser mais explorada. As empresas do sector do turismo devem começar, desde já, a explorar esta possibilidade com formação e adopção de tecnologias que permitam chegar aos clientes e prestar um serviço de qualidade e a um preço, verdadeiramente, atraente. Por isso, mantemos este item acima do meio da tabela (7)
Numa outra perspectiva, olhando o mercado por dentro, podemos analisar a situação do sector do turismo tendo em conta as diversas forças de mercado que podem actuar à favor ou contra a operação das empresas do sector, tendo um comportamento mais ou menos colaborativo e, noutros casos, mais ou menos prejudicial. Como referenciado por Porter (Harverd Business School), analisamos as forças seguintes: Clientes, fornecedores, concorrentes, novos entrantes e produtos substitutos.
Quadro 2
Neste quadro verificamos que numa situação ideal as forças de mercado deveriam estar abaixo dos “players” (linha azul), quanto mais baixo é o valor do elemento analisado menos pressão faz sobre os “players” e mais colaborativo (ou menos prejudicial), se apresenta.
1- Situação ideal (linha azul). Os clientes e os fornecedores têm um papel importante, os concorrentes pressionam de forma muito próxima, os novos entrantes vêm logo a seguir e tornar-se-ão concorrentes e não haverá muito espaço para produtos substitutos. Os operadores turísticos estão no indicador zero e. como têm as outras forças abaixo de si, podem manter-se e crescer de forma orgânica.
2- Situação Actual (linha vermelha). Com a fraqueza dos “players” e a situação económica difícil, o poder de barganha dos clientes e dos fornecedores aumenta de forma exponencial. Ainda que a situação dos concorrentes e novos entrantes seja tão má como a dos "players", qualquer situação de concorrência pesa muito sobre as empresas e operadores. Os produtos substitutos ganham relevância como alternativa, normalmente mais baixa e atraente, e podem concorrer em “pé de igualdade” com os produtos existentes. Entretanto, com este quadro, a força de mercado dos operadores turísticos cai de forma abrupta deixando-os muito abaixo do que é recomendável.
Estas e outras reflexões devem abrir uma ampla discussão entre todos os "players" do sector, os "stackholders" e os pontos e elementos de contacto. Os horizontes devem ser abertos ao máximo para que sejam criadas e aproveitadas oportunidades que se apresentem, ter um movimento único para mitigar ou debelar ameaças, superar as fraquezas e usar, ao máximo as forças existentes. Abaixo um mapa inicial de uma SWOT (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças) do sector.
Quadro 3.
Sabemos que esta análise pode ter variações em relação aos "players", às áreas de actuação, às áreas do país onde se encontram, à capacidade de coordenação e colaboração, p.ex. toda a área sul de Angola tem uma situação privilegiada pelo potencial, pelo investimento estrutural já feito, pela tradição, pela proximidade a grandes mercados regionais e pela capacidade de colaboração e organização dos empresários locais.
A discussão já está aberta e esperamos que o mercado e os operadores sejam suficientemente, fortes, pro-activos, colaborativos e se empenhem em buscar dados e parcerias fiáveis para dar a volta a esta nova realidade que se apresenta desafiadora para o sector.
Publicado por: