Por Laite Capuita Tito
Considerada a joia da cultura angolana, também conhecida na etnia Côkwe como “Samanhonga”, ganhou o estatuto de símbolo nacional em 1984.
Rica em história e estórias, a peça é originária da região Leste de Angola, que engloba as províncias das Lundas Norte e Sul e Moxico, donde também emergem “Mwana Pwó”, “Muhongo”, “Muquixi wa Mwata”, entre outros artefactos.
Usualmente feita de madeira, a escultura caracteriza, supostamente, uma mulher sentada com os cotovelos sobre os joelhos e mãos à cabeça, como se estivesse a pensar. Acredita-se que a sua figura oval diz respeito à ligação do homem com as forças da natureza.
A sua forma simétrica, com a face ligeiramente inclinada para baixo, exprime um subjectivismo intencional, visto que, em Angola, os idosos ocupam estatuto privilegiado, pois representam a sabedoria, a experiência de longos anos e o conhecimento dos segredos da vida.
O Samanhonga (original) foi esculpido por um dos membros da família Muakanhika, na República Democrática do Congo (RDC), e veio parar na região Leste do país, na província da Lunda Norte, devido à imigração do povo Côkwe para Angola. Entre os povos imigrantes, estavam, sobretudo, as famílias Muakanhika, Muandumba, Tetembo ou Muatchissengue Muatembo e Muambuba.
Da peça original, começaram a ser esculpidas, nas oficinas do Museu do Dundo, nos finais da década de 40 do século XX, as suas réplicas. Em 1947, por iniciativa da Diamang, a então Companhia dos Diamantes da Lunda, foi criado, na povoação do Dundo, um Museu de Arte Tradicional e de Colecções Arqueológicas e Etnográficas.
Funcionários da empresa, na sua maioria belgas e portugueses, contrataram artesãos locais e incentivaram-nos a esculpir na madeira ou a modelar no barro figuras que fossem genuinamente angolanas, mas, ao mesmo tempo, que as suas formas se aproximassem de uma estética que julgavam ser mais convencional no sentido ocidental.
Estórias e histórias à volta da estatueta
A estatueta possui várias lendas, entre elas uma segundo a qual o Pensador era usado como um amuleto para a adivinhação e elo para as preces das adivinhas que invocavam o espírito dos antepassados.
Esta peça, conforme a tradição, servia, supostamente, de vínculo entre o mundo dos vivos e o espírito dos antepassados que têm a função de zelar ou lesar as pessoas tanto de dia como de noite.
Reza ainda a história que o Pensador era uma escultura que, de noite, se tornava num humano, por meio de sacrifícios de pessoas da localidade ou inimigos. Como humano, era de estatura alta, forte e guerreiro, que comandava a sua tribo nas guerras contra as outras etnias. Com isso, conquistavam terras, respeito e medo diante de outros povos. Por estas destrezas, o colono português obrigou as autoridades tradicionais a “confinarem” a estátua no Museu do Dundo.
Valor cultural e económico
Pelos valores que carrega no contexto cultural e económico de Angola, essa estatueta (o Pensador) constitui uma referência mundial, tornando-se presença visível, desde Janeiro de 2018, na Galeria de Arte do edifício-sede da União Africana (UA), em Addis-Abeba (Etiópia).
Devido à sua forte presença na cultura, é reproduzido por vários escultores e adquirido em galerias, lojas e feiras de artesanato, em diferentes dimensões e materiais, como lembrança de Angola.
Frequentemente, dirigentes do país oferecem, igualmente, como recordação, uma escultura do Pensador às figuras políticas que visitam Angola. Roubado do Museu do Dundo durante o longo conflito armado que assolou o país, a luta passa pela recuperação da escultura, à semelhança do ocorrido com a máscara “Mwana Pwó”, em 2015.
“Samanhonga” com valor para Património Mundial Face à sua simbologia, a sua história e peso no mosaico cultural angolano, à semelhança do Centro Histórico da Cidade de M'banza Kongo, que ganhou, em Julho de 2017, o estatuto de Património Mundial, fruto da inclusão na lista de bens e sítios culturais protegidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), o Pensador poderá, igualmente, entrar na restrita lista.
As autoridades angolanas, sob comando do Ministério da Cultura, trabalham para a concretização deste projecto, a fim de que o seu legado seja perpetuado para as futuras gerações.
A par de outros símbolos culturais existentes em Angola, como a Palanca Negra Gigante, a Welwitschia, os instrumentos musicais, as máscaras Yaka, Bakama e Mwana Pwó, entre outros artefactos, o Pensador deve ser preservado para a valorização da cultura angolana.
Fonte: ANGOP